Fiódor Dostoiévski não para de me surpreender com seu sarcasmo e sua incrível capacidade de colocar seus personagens em situações incomuns. “O Jogador” é a terceira obra do autor que eu leio e mais uma vez adorei como “Dostô” guia o leitor através de suas tramas com maestria.
O título e o importante subtítulo “Das memórias de um jovem” dão uma boa ideia do que você encontra em “O Jogador”. Alexei Ivánovitch, um jovem bem instruído de 25 anos, relata ao leitor suas experiências e principalmente o seu incontrolável vício em jogos e apostas, além da sua conturbada relação de amor e ódio com Paulina Alexandrovna, que é enteada do seu chefe, um general.
Alexei Ivánovitch é uma espécie de professor para os filhos do general e se vê diretamente ligado a diversos acontecimentos inusitados no dia a dia da família de seu chefe. Apesar da trama simples, a história se desenvolve de forma surpreendente, seguindo caminhos inimagináveis com alguns personagens secundários caricatos e extremamente engraçados.
Dostô consegue aqui não apenas criar um enredo interessante, curioso e cheio de particularidades, mas adentrar nos sentimentos, medos, fraquezas e aspirações dos seus personagens, que às vezes são exagerados e dramáticos, deixando tudo com um ar tragicômico que eu particularmente acho muito legal.
A construção de um personagem em constante degradação é incrível. Alexei é incapaz de controlar sua vontade de se arriscar, de vencer e de perder. Seus dias são uma verdadeira montanha russa, assim como sua relação complicada com sua amada.
Com o avanço da história, a rotina um tanto chata do protagonista ganha novas cores e ânimos, conforme sua paixão e seu vício afloram, deixando sua vida mais interessante, e claro, mais complicada e perturbadora. Eu quis dar umas sacudidas nele durante a leitura.
O Jogador reflete em parte a vida do próprio Dostoiévski, que assim como Alexei, era chegado numa jogatina e basicamente escreveu este romance para pagar suas dívidas de jogo. Veja mais posts de literatura russa.