Barba Ensopada de Sangue é a minha segunda experiência com a escrita do gaúcho Daniel Galera. Gostei muito da pegada existencialista de “Até o dia em que o cão morreu” e por isso resolvi revisitar o autor e encarar o seu livro mais premiado.
Apesar do nome, Barba Ensopada de Sangue não é exatamente um livro violento, mas passa por temas complexos como suicídio e distanciamento. Daniel Galera entrega um texto contemplativo, em certos momentos até arrastado e cheio de descrições, mas que vai envolvendo o leitor gradativamente conforme a trama avança.
Acompanhamos a história de um professor de educação física (sem nome), que ao visitar seu pai, é informado que o mesmo pretende tirar sua vida nos próximos dias. Seu pai ainda lhe faz um último pedido: sacrificar sua cadela, Beta. Nessa mesma conversa, o pai conta algumas das aventuras do avô do protagonista no balneário de Garopaba (Santa Catarina), e relata sua versão sobre a história que envolve o assassinato do velho pela população local anos atrás.
Após o suicídio do seu pai, o protagonista se muda com a Cadela pra Garopaba e é aí que a história se desenvolve. Galera vai construindo a trama e entregando pouco a pouco mais detalhes sobre o protagonista e sobre a morte do seu avô.
Um dos grandes méritos do autor é conseguir transportar o leitor pro dia a dia pacato da cidade litorânea, fazendo com que a cidadezinha seja também um personagem da história.
Ele descreve com cuidado as pessoas, as localidades e os fatos. Aliás, todo esse cuidado com a descrição se dá por uma característica muito peculiar que envolve o protagonista. Ele sofre de uma doença chamada prosopagnosia, e por causa dela não consegue guardar os rostos das pessoas, nem mesmo o seu próprio.
A trama em si não me pareceu tão importante quanto as sensações que sentimos junto com o protagonista através das pequenas histórias que são contadas lentamente. É a jornada de um personagem sem nome – que pode ser eu ou você – em busca de si mesmo.
Barba Ensopada de Sangue | Daniel Galera
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1 comentário
[…] Barba Ensopada de Sangue aguçou meu interesse pelo existencialismo de Sartre; Crime e Castigo me empurrou diretamente pra filosofia de Nietzsche; Fundação me fez perceber que eu gosto de sociologia e psicologia; Os Despossuídos me fez ver política de outra forma. E agora, depois de ler este incrível “Os Supridores” do gaúcho José Falero, imediatamente em seguida fui atrás das obras de Karl Marx. […]