José Falero
Quando me propus a explorar melhor a literatura e sair da minha bolha (Tolkien e Stephen King), eu não tinha a mínima ideia quais leituras faria e muito menos quais temas me chamariam atenção. Eu também não sabia que a literatura ajudaria a me descobrir. Como? Eu explico: alguns livros praticamente me empurraram em direção a outros livros, ou melhor, li livros que deram vontade de conhecer melhor alguma corrente filosófica, uma outra forma de ver o mundo, de pensar. Os supridores me guiou por um caminho interessante.
Barba Ensopada de Sangue aguçou meu interesse pelo existencialismo de Sartre; Crime e Castigo me empurrou diretamente pra filosofia de Nietzsche; Fundação me fez perceber que eu gosto de sociologia e psicologia; Os Despossuídos me fez ver política de outra forma. E agora, depois de ler este incrível “Os Supridores” do gaúcho José Falero, imediatamente em seguida fui atrás das obras de Karl Marx.
José Falero nasceu na periferia de Porto Alegre e viveu na pele a experiência de ser negligenciado, explorado e tratado como sub humano por qualquer um que esteja minimamente acima da linha da miséria. Em Os Supridores Falero nos apresenta personagens incrivelmente reais, que precisam enfrentar obstáculos que muitos sequer imaginam, pois tiveram oportunidades que parecem triviais, como um lugar pra morar e uma escola pra frequentar.
O Supridores fala essencialmente sobre desigualdade, escancara a falácia da meritocracia, faz críticas sobre o discurso do empreendedorismo, e mostra que sem oportunidade ninguém tem condição real de sair da miséria, não pelas vias normais.
Acompanhamos a história de dois jovens que trabalham como supridores num mercado em Porto Alegre. Um deles, Pedro, lê Marx no caminho de casa pro trabalho e começa a se dar conta da sua situação em meio a uma sociedade hipócrita e alienada. Cansado dessa vida miserável, Pedro tenta convencer o amigo a entrar pro tráfico de drogas na esperança de uma vida melhor. Eles estão prestes a montar uma espécie de cooperativa pra vender maconha.
A escrita de Falero emula a linguagem de rua, faz o leitor se sentir na periferia e experimentar a violência, a miséria e a constante luta pela própria existência. É sensacional!
1 comentário
[…] texto anterior escrevi sobre Os Supridores, um livro que despertou minha vontade de ler Karl Marx, minha escolha foi Manifesto do Partido […]