Ópera dos Mortos
Quando quero fugir da minha bolha literária de temas, autores e gêneros, eu peço indicação de livro pra alguém. Foi assim que “Ópera dos Mortos” caiu na minha mão. O livro escrito por Autran Dutra em 1967 foi uma dica do meu pai. Confesso que não conhecia o autor e o que mais me chamou atenção na obra foi a construção lenta de uma história que explora a psicologia de seus personagens com uma beleza incrível.
Com poucos diálogos, o texto de Autran Dutra desnuda a alma dos personagens apresentando-os ao leitor de dentro pra fora; gradativamente seus medos, sonhos e lembranças inevitavelmente vêm à tona; ou seja: são personagens imersos em reflexões e sentimentos complexos e muitas vezes contraditórios. Assim, o autor apresenta diversas vozes que de certa forma estão presos a fantasmas do passado e faz da sua narração uma verdadeira “ópera dos mortos”.
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A trama se desenrola numa pequena cidade imaginária no interior de Minas Gerais e boa parte dos eventos se passam no sobrado da importante família Honório Cota, que é respeitada por todos os habitantes da pacata cidadezinha.
Ali temos a ressentida Rosalina, cujo pai e avô foram figuras notáveis e marcantes da região. Curiosamente, Rosalina é uma mistura da personalidade tanto de seu avô quanto de seu pai, que eram, essencialmente, pessoas muito distintas. Essas camadas fazem da protagonista uma personagem extremamente complexa e interessante. É com Rosalina que acompanhamos a lenta degradação e decadência da família.
O sobrado (a casa do Honório Cota) é praticamente um personagem na história, há sobre ele uma certa mística, um respeito por conta dos habitantes locais por ser de longe a mais bela construção da região.
A experiência de leitura foi incrível! Autran Dutra conduz o leitor com uma habilidade incrível, com controle narrativo, ritmo, apresentação dos personagens e domínio total sobre a história que é contada. Me surpreendi com a habilidade do autor em criar personagens multidimensionais e muito, muito reais. Livrão da literatura brasileira!