Uma das minhas metas é ler mais livros escritos por mulheres, além disso, experimentar também mais obras contemporâneas da literatura brasileira. Aproveitei e uni o útil ao agradável, com o ótimo Se Deus Me Chamar Não Vou, lançado em 2019 por Mariana Salomão Carrara.
A protagonista, Maria Carmem, é uma garota de onze anos; “a pior idade do mundo” segundo ela mesma. A menina quer ser escritora e recebe incentivo da sua professora. O livro começa com a garota escrevendo uma redação na escola para um super herói. Ela quer escrever pro Super Homem e perguntar como é esse negócio de ser imortal, já que ela tem um medo danado de morrer.
Como qualquer criança de onze anos, Maria Carmem é muito curiosa, mas seus questionamentos são adultos demais pra alguém tão jovem. Ela passa tempo demais dentro da própria cabeça tentando entender o motivo de tudo ao seu redor, possivelmente por se sentir tão deslocada dentro de casa e na escola.
A voz de criança da personagem é muito bem feita e Maria Carmem é terrivelmente real; cheia de medos, angústias, segredos, preocupações e aspirações.
Ela anda preocupada com o futuro do negócio dos pais, uma loja que vende produtos para idosos e que ela chama de “loja de velhos”. Também se vê chateada com o bullying que sofre na escola por ser uma garota muito grande pra sua idade, e desenvolve um inexplicável medo de morrer. Em contraste, muitas vezes o que ela pensa é cômico e ingênuo. Ela acredita, por exemplo, que “tudo na vida é produzido pela prefeitura”.
A história bateu em mim como um soco no estômago, a menina experimenta uma solidão que devasta o leitor. Imaginar uma criança lidando com questionamentos adultos te coloca pra pensar, e reviver situações que você cansou de ver quando tinha a idade dela. Ainda mais quando ela solta frases como “acho que existem crianças mais solitárias que os velhos.”
Um livro divertidíssimo e ao mesmo tempo muito triste. Escrito com muita delicadeza que transporta o leitor numa montanha russa de emoções e reflexões. Entrou pra minha lista de favoritos do ano. Excelente!
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