As Cidades Invisíveis é uma obra única e bastante peculiar. O livro publicado em 1972 pelo escritor italiano Italo Calvino foi uma das minhas primeiras leituras de 2021, e até agora eu não encontrei palavras pra descrever essa maravilha, tão pouco consegui encaixá-la em algum gênero literário.
Somos transportados ao século XIV e acompanhamos encontros entre dois personagens históricos, Marco Polo e Kublai Khan.
A primeira coisa que chama atenção é que os protagonistas não são as pessoas, e sim as cidades descritas pelo viajante Marco Polo em suas andanças pelo império de Kublai Khan.
Marco Polo, que foi embaixador de Kublai no Império Mongol, descreve ao longo do livro 55 cidades visitadas por ele. Todas com nomes femininos, cada uma com suas peculiaridades e descrições fantásticas que muitas vezes desafiam a lógica e os conceitos tradicionais de tempo e espaço. Passado e futuro se confundem, embaralhando nossas percepções e desafiando o leitor, que não sabe o que é real ou o que é fantasia, nem se Marco Polo de fato viu o que descreve ou são apenas suas percepções.
No começo do livro fiquei um pouco perdido, com o tempo fui entendendo a proposta do autor e percebendo que esta não é uma obra convencional.
O que imaginamos a respeito de uma cidade é a realidade sensível da mesma. Nossas lembranças, nossas experiências. Marco Polo tenta explicar isso para Kublai em uma das interrupções quando ele pede que o viajante fale a respeito de uma cidade real e não uma de suas narrativas fantásticas.
Calvino desperta no imaginário do leitor o vislumbre de cidades e suas histórias de forma sublime. Os capítulos são curtos, facilitando a leitura. Os breves relatos de lugares maravilhosos te fazem refletir sobre a vida, a respeito dos comportamentos humanos, também sobre nossas crenças, de uma forma tão poética que é difícil traduzir em palavras.