Livro: Nostalgia – Mircea Cartarescu
Quando resolvi ler “Nostalgia” do escritor romeno Mircea Cartarescu – depois de ver um vídeo do Lucas Lazzaretti do @bloglivrada – eu não sabia que este livro entraria pra minha lista de leituras favoritas de 2022.
Nostalgia me pegou principalmente pela linguagem e forma que foi escrito. Temos cinco histórias independentes que se passam em Bucareste em diferentes épocas; são tramas que funcionam de forma autônoma mas que são unidas essencialmente pelo tema da memória. A capital romena de certa forma é lembrada e relembrada de forma nostálgica pelo autor ao longo do texto.
Em “O Roletista”, que abre o livro em grande estilo, acompanhamos o narrador contar a história de um jogador de roleta russa que sobrevive desafiando não só a morte mas também todas as probabilidades, deixando o leitor completamente atônito.
Mircea Cartarescu constrói personagens e narradores que passam boa parte da trama revisitando lembranças da infância e adolescência, e buscando em suas memórias sentimentos e emoções quase esquecidos. Este processo de rememoração é apresentado ao leitor de forma muito curiosa, como se tais lembranças não fossem totalmente precisas. Há também em cada uma das histórias um elemento fantástico, quase sobrenatural e que deixa a narrativa ainda mais turva, peculiar e grandiosa.
Em alguns momentos o autor mistura o realismo fantástico de Gabriel Garcia Marquez e os labirintos enigmáticos de Jorge Luis Borges para deixar suas histórias ainda mais surreais. Ele também recorre a Kafka num dos momentos mais interessantes do livro:
“Após uma noite de sono agitado, um inseto horrendo despertou transformado no autor dessas linhas’. É aproximadamente assim que eu começaria invertendo a frase inicial de A Metamorfose, de Kafka, a história que pensei escrever aqui, se quisesse publicá-la”
A narrativa em Nostalgia tem como base uma memória não linear, não cronológica, e bastante fragmentada. A memória é o caminho para a compreensão da existência; para perceber (ou não) a diferença entre sonho e realidade quando revisitamos o passado.