Ler o renomado escritor português José Saramago é uma experiência única, principalmente por conta do seu estilo peculiar de escrita usando longos parágrafos com diálogos embutidos e pouca pontuação. Recheado de sarcasmo e ironia, As Intermitências da Morte é uma grande sátira sobre uma das questões que mais afligem a humanidade: o medo da morte. A icônica frase que abre o livro é a seguinte: “No dia seguinte ninguém morreu”. Sendo assim, a partir de 1º de janeiro de um ano qualquer, não se morre mais naquele país. O motivo? A morte resolveu tirar umas férias.
O que Saramago faz em seguida é mostrar as consequências desse fato inusitado. Com o desaparecimento da morte, as pessoas, as empresas, as igrejas e o estado precisam rever todos os seus conceitos e lidar com novos problemas. Hospitais e asilos enfrentam superlotação, companhias de seguros e funerárias se veem em crise. E pra falar das igrejas prefiro selecionar uma frase que me marcou: “As religiões, todas elas, por mais voltas que lhes demos, não têm outra justificativa para existir que não seja a morte, precisam dela como do pão para a boca”.
Personagens surgem e somem enquanto a história avança, até o momento em que o autor personifica a morte e seguimos pro fim do livro acompanhando um dos desfechos mais inusitados da literatura.
As Intermitências da Morte foi a segunda obra do português que li e confesso que foi uma leitura um tanto arrastada, por mais que a história seja extremamente interessante, o estilo do autor exige muita atenção do leitor e por vezes eu me via voltando ao começo do parágrafo para checar se eu realmente tinha entendido quem estava falando. Isso porque o narrador te encanta, te confunde, e de fato conversa com você. Ele te conta uma história e ao mesmo tempo divaga sobre as mais diversas questões. Nesse ponto, por vezes você percebe que parou a leitura e se pega imerso em pensamentos propostos por Saramago. É um convite à divagação sobre a vida, a morte, o amor e o sentido, ou a falta dele, da nossa existência.