Cama de Gato foi escrito em 1963 pelo americano Kurt Vonnegut, é uma obra recheada de humor, críticas ácidas e doses do mais completo nonsense. Eu ainda não tinha lido nada do autor, por isso o que me chamou atenção logo de cara foram os capítulos curtinhos que às vezes lembram crônicas, além de um estilo bastante peculiar de escrita que dá ao livro muito dinamismo, mas ao mesmo tempo é um tanto caótico. Alguns diálogos cômicos e situações absurdas lembram um pouco a estética de Monty Python.
A história começa de forma despretensiosa, um jornalista chamado Jonah resolve escrever um livro sobre o dia em que a cidade de Hiroshima foi bombardeada durante a segunda guerra mundial. O ponto de partida é o próprio inventor da bomba atômica, o falecido cientista Felix Hoenikker. Rapidamente o escritor se vê envolvido numa trama bizarra envolvendo os três filhos e herdeiros de Felix.
Jonah se depara com descobertas no mínimo inusitadas, que inclui um desconhecido país perto do Caribe, uma religião que se baseia assumidamente em mentiras, além de se apaixonar por uma bela mulher. No meio dessa verdadeira cama de gato, a trama avança trazendo ao protagonista e ao leitor reflexões sobre os mais diversos aspectos da sociedade como política, ciência e religião.
Cama de Gato pode ser lido nas entrelinhas, afinal, a trama vai ficando cada vez mais absurda e até surrealista conforme avança, pouco a pouco Kurt nos presenteia com seu estilo subversivo, com muito humor ácido, numa história sobre ambição, ganância e progresso tecnológico. A trama é bastante intrincada e vai por caminhos inusitados, o leitor nunca sabe pra onde está sendo levado.
Talvez o principal tema do livro seja o contraponto entre ciência e religião. Vonnegut transita muito bem entre estes dois universos, ora mostrando a busca pela informação e tecnologia mas que é permeada por cobiça e desejo por sucesso. Na outra ponta o autor satiriza a fé cega movida pela religião.
Gostei bastante e dei boas risadas, quero ler mais obras do autor e aceito sugestões!
“Cuidado com o homem que fica obcecado com a ideia de aprender algo, ele aprende essa coisa e descobre que não ficou mais sábio por causa disso”, diz Bokonon. “Ele tem um ressentimento assassino contra as pessoas ignorantes, que assim o são naturalmente, sem terem tido todo o trabalho que ele teve.”