Fiódor Dostoiévski
Todo crime merece um castigo?
Considerado por muitos a obra prima de Dostoiévski, Crime e Castigo é um calhamaço com quase 600 páginas que influenciou personalidades como Nietzsche, Freud, Kakfa, e certamente reverbera até hoje nas mais diversas obras, não apenas na literatura, mas também no cinema, televisão e na arte de forma geral. O negócio é tão complexo que você pode tranquilamente considerar Dostoiévski não apenas um escritor, mas um verdadeiro filósofo.
Diversos aspectos tornam Crime e Castigo uma obra única, mas o primeiro ponto que me chama atenção é que temos um título que de certa forma já dá um grande “spoiler” pro leitor. Entretanto, mesmo sabendo que estamos diante de uma história onde ocorre um crime e consequentemente um castigo, a forma como Dostoiévski narra a trama pega o leitor de surpresa numa longa e dolorosa jornada psicológica que se passa dentro da cabeça do protagonista, Rodion Raskolnikov.
Crime e Castigo é um livro onde a narrativa é mais importante do que os fatos em si. Existe aqui uma construção realista e impactante, com descrições de cenários e sentimentos que colocam o leitor lado a lado com o ambiente conturbado do dia-a-dia do jovem Rodion.
Rodion Raskolnikov é um brilhante estudante que vive na mais completa miséria e não consegue pagar seus estudos. O jovem, que tende a uma certa megalomania, se convence estar destinado a grandes ações, mas crê que a pobreza o impossibilita de realizar suas conquistas.
Em seus diversos debates internos, que às vezes parecem delírios e até sonhos, acompanhamos o rapaz planejar um hediondo assassinato. É aqui que Dostoiévski coloca o leitor em contato com uma questão essencial no desenrolar da trama: é moralmente correto matar uma pessoa que não contribui para a sociedade, se a partir dessa morte torna-se possível atingir objetivos nobres? Prefiro nem entrar neste mérito e deixar que a leitura te faça refletir sobre isso.
Este é apenas o começo de uma história que fica cada vez mais intensa, com acontecimentos estranhos e que fogem ao controle de Raskolnikov, arrastando o leitor numa jornada de culpa, questionamentos existenciais, morais e filosóficos que surgem a partir de um crime e suas consequências.
Confesso que demorei pra engrenar com esta leitura, passei pelo menos umas 100 páginas tentando entender os rumos que a trama estava tomando. Levei um tempo pra absorver o ritmo lento da narrativa e seus longos monólogos, discursos e dissertações. Mas graças a personagens extremamente bem construídos, reais e cheios de falhas e contradições, com o tempo me vi completamente imerso na trama, devorando página atrás de página.
Dostoiévski leva o leitor aos confins da psicologia do protagonista, acompanhamos tudo o que se passa na cabeça de Raskolnikov em tempo real, a cada passo, cada erro e acerto do jovem não passa despercebido pelo leitor. Eu garanto que depois deste livro Rodion Raskolnikov jamais sairá da sua cabeça.
CRIME E CASTIGO | Fiódor Mikháilovitch Dostoiévski
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