Fiódor Dostoiévski me abriu as portas da literatura russa com o simpático “Noites Brancas”, certamente é o autor que mais aparecerá por aqui no futuro, já que pretendo ler pelo menos um (ou quem sabe dois) de seus maiores clássicos em 2022. Depois de ler três de seus livros, resolvi conhecer sua primeira obra publicada, por isso escolhi Gente Pobre.
O livro publicado em 1846, quando Dostoiévski tinha apenas 25 anos, conta a história de Diévuchkin, um funcionário público de meia idade do baixo escalão, e Varavara, uma jovem costureira órfã. A história é contada através de cartas trocadas entre os dois personagens principais, que sofrem com problemas financeiros e beiram a extrema pobreza.
Aos poucos as cartas revelam o passado e presente de dos protagonistas, além dos seus pensamentos, angústias e desejos mais simples. Cada troca de carta registra um recorte do dia-a-dia sofrido de cada um e suas realidades quase insignificantes por conta da miséria. Fica um gosto agridoce na boca do leitor, porque apesar de passagens belas e positivas, no geral a história é bem melancólica.
Mesmo que de forma leve, o autor já começa a explorar o vazio existencial de seus personagens, e os diversos desafios que a sociedade os impõe. Interessante notar que a pobreza dos protagonistas contrasta com a nobreza dos seus sentimentos; Diévuchkin faz o que pode para proteger a garota, que por sua vez está sempre disposta a ajudá-lo. Você sofre com eles e sofre por eles.
O autor também faz um retrato social das camadas pobres de sua época com personagens como um agiota e um bêbado, além de alguns perfis que voltariam a aparecer em seus livros no futuro. Mas seu grande trunfo aqui é trazer humanidade e dignidade pra uma classe social tão excluída da sociedade.
Uma história fácil de ler, simples de entender, e triste por ser tão próxima da nossa realidade atual.