Kurt Vonnegut
Matadouro Cinco explodiu a minha cabeça e sem dúvidas entrará na minha lista de melhores leituras de 2022. Dito isso, vale lembrar que o livro foi escrito em 1959 por Kurt Vonnegut, que vivenciou a Segunda Guerra Mundial lutando ao lado dos aliados. Aliás, Matadouro Cinco é o nome do abatedouro onde Kurt foi prisioneiro de guerra em Dresden, na Alemanha.
Logo no primeiro capítulo o autor comenta sobre a sua vontade de escrever sobre a guerra sem endeusá-la como a mídia faz, já que ela nada mais é do que um matadouro, um massacre onde as vítimas não possuem voz. É assim mesmo.
Pra tratar de um tema tão complicado, as escolhas narrativas de Vonnegut são nada menos do que geniais. Acompanhamos a trajetória do personagem Billy Pilgrim, que assim como o autor, testemunhou como prisioneiro de guerra em 1945 a morte de milhares de civis, a maior parte deles por queimaduras e asfixia, no bombardeio que destruiu a cidade alemã.
Seu texto é leve, dinâmico, cômico, psicodélico e ao mesmo tempo exagerado e insano. Billy Pilgrim é abduzido por alienígenas e viaja no tempo, (o autor diz que Billy ficou solto no tempo). A trama ganha contornos fantásticos, ainda mais quando o autor quebra a barreira entre o narrador e o personagem, deixando o leitor ainda mais atônito com a bagunça entre realidade e ficção!
É uma grande sátira recheada de acidez às guerras. Mais do que isso, curioso notar como Vonnegut traz um forte discurso anti guerra enquanto mostra que nos acostumamos com a violência institucionalizada e somos capazes de nos divertir à custa do sofrimento de milhões. Isso fica evidente em Billy Pilgrim, um personagem fatalista, conformado e desmotivado. Billy surta, não consegue assimilar e se conectar à realidade absurda ao seu redor, e repete ao longo de todo o livro uma espécie de mantra do pessimismo: “É assim mesmo”.
É um daqueles livros que te pega nas entrelinhas e te faz questionar sobre o caminho que humanidade pretende seguir em meio à tanta violência no mundo. Fantástico!