Jorge Luis Borges
Imagine ter em mãos um livro infinito, um livro sem começo, meio ou fim. Um livro que cada vez que você abre tem acesso a alguma página nunca vista antes e que jamais voltará a ver. Seria isso um sonho ou pesadelo? Normalmente tento intercalar os temas e até mesmo autores em minhas leituras. Com Jorge Luis Borges não consegui esperar muito tempo até engatar outro livro do autor argentino. “Ficções” foi tão marcante que algumas semanas depois resolvi ler “O Livro de Areia”.
A obra de escrita refinada reúne treze contos que transportam o leitor pra lugares e ideias tão inusitadas, profundas e algumas vezes complexas, que a tentativa de explicar a experiência de ler Borges é completamente subjetiva. Você acha que está pisando em terreno sólido e quanto menos espera o autor transforma o texto numa espécie de areia movediça que te suga pra dentro de um mundo onde as possibilidades são infinitas.
Compre por aqui e ajude o Jornada Literária
De um lado, temos a beleza da imaginação ilimitada do autor que molda seus personagens entre o absurdo e o inusitado em contos sobre a ordenação do cosmos e literaturas que conhecem apenas uma palavra. Na outra mão, a erudição do autor e o uso de um vocabulário rebuscado por vezes sufocam o leitor.
No conto “O Outro” temos uma história onde um Borges mais velho narra um sonho que é um encontro com a versão mais jovem de si mesmo, trazendo um tema recorrente do autor: o duplo. Em “Utopia de um homem que está cansado” a trama se passa em uma época cheia de distorções históricas em que a memória, a história e a literatura já não existem por conta de uma falta de memória coletiva.
“O número de páginas deste livro é exatamente infinito. Nenhuma é a primeira; nenhuma é a última”. “Disse-me que o livro se chamava Livro de Areia, porque nem o livro nem a areia têm princípio nem fim”. Assim se descreve o inconcebível Livro de Areia que dá nome ao último conto da obra, um verdadeiro espetáculo narrativo, literário e filosófico.
Borges constrói suas narrativas e usa a literatura pra colocar no papel suas ideias com uma linguagem própria e extremamente inventiva, onde nada é o que parece e tudo é o que pode ser.