Ursula K. Le Guin
Os Despossuídos foi a minha primeira leitura de 2022, e já virou um forte candidato a melhor leitura do ano. Depois de ler o incrível “A Mão Esquerda da Escuridão”, eu já desconfiava que iria gostar bastante desta obra de Ursula Le Guin, a rainha da ficção científica.
A autora propõe ao leitor um exercício imaginativo incrível, contando a história de dois planetas que não poderiam ser mais diferentes entre si. Em primeiro plano acompanhamos a história de Shevek, um cientista do inóspito planeta Anarres. Os capítulos alternam entre a sua infância no seu planeta natal e uma viagem que ele faz pra conhecer o Urras.
Anarres é um planeta com uma filosofia anarco-sindicalista, prezando simultaneamente pela coletividade e pela liberdade. Anarres se rebelou há cerca de 200 anos do seu planeta gêmeo, Urras. E é aí que a coisa começa a ficar interessante. Enquanto em Anarres as pessoas vivem sem o sentimento de posse (daí o título do livro), onde tudo é compartilhado por todos e a população precisa se ajudar o tempo todo, em Urras o capitalismo reina absoluto. Bom, eu imagino que você saiba como é caótico e desigual o sistema capitalista.
A partir daí a autora faz uma análise interessante dos benefícios e problemas do modo de vida que as pessoas levam em cada um dos planetas, mas isso é só a ponta do iceberg, afinal, Ursula Le Guin tem um talento impressionante pra falar de temas como regimes políticos, machismo, feminismo e homosexualidade, sem deixar os assuntos chatos, sem ditar regras ou tomar partidos. Ela simplesmente encaixa diversos temas no enredo de uma forma que o leitor acaba pensando neles de alguma forma.
É um livro de ficção científica com diversas camadas e questionamentos filosóficos. De certa forma este livro é mais simples e fácil de acompanhar do que “A Mão Esquerda da Escuridão”, e me parece ser uma boa porta de entrada pra quem quer conhecer essa autora genial!