Uma coleção de contos subversivos, alguns relacionados entre si, outros com histórias completamente insanas! Dono de um estilo enxuto e visceral, o autor chileno Roberto Bolaño – que não é o Chaves – nos presenteia com excelentes textos em Putas Assassinas. Mais uma indicação do Lucas Kater e que me surpreendeu positivamente pela elegância da escrita do autor.
Não se deixe enganar pela conotação sexual do título. Além de sexo, Bolaño fala sobre solidão, exílio, política, violência, morte, e não se cansa de fazer referências literárias e relembrar o Chile. Achei muito interessante a ambientação dos contos em diferentes países e culturas, como: México, Espanha, Alemanha e até na Índia; fruto dos anos que autor morou em diferentes países por conta dos problemas políticos na sua terra natal com o ditador Augusto Pinochet.
Alguns contos são mais vistosos e cativantes que outros, mas no geral os textos são imprevisíveis e sarcásticos. Enredos e tramas se misturam a pensamentos, lembranças, passagens biográficas… Ficção e realismo se entrelaçam e desconcertam o leitor pela crueza das narrativas. Os personagens são complexos: entramos fundo em seus aspectos psicológicos e suas vidas são quase sempre vazias e sem sentido.
Meu conto favorito, “O Retorno”, é um espetáculo e tem um começo arrebatador: “Tenho uma notícia boa e uma má. A boa é que existe vida (ou algo parecido) depois da vida. A má é que Jean-Claude Villeneuve é necrófilo”. Aqui o protagonista se descobre morto e vê seu corpo ser sequestrado para práticas sexuais. Em outra história o filho de uma prostituta e um padre revê os filmes pornô da mãe grávida. No conto “Buba” conhecemos a história de 3 jogadores de futebol metidos com magia negra. Limites realmente não existem por aqui.
É uma leitura que te joga numa montanha russa de emoções e sensações. Bolaño transforma histórias do cotidiano em contos de muita qualidade e dá vida aos seus personagens latinos num mundo injusto e profano. É tudo muito real e triste, ou seja: adorei!