Este foi o meu primeiro contato com a escrita do japonês Haruki Murakami. Sono é basicamente um conto, a história é curtinha, a leitura é bem fluida e intensa. O livro tem cerca de 115 páginas e muitas ilustrações, dá pra ler tranquilamente numa tarde.
Sono é narrado por uma mulher cujo nome não é revelado, e que sem qualquer explicação não dorme há 17 dias. Ela é uma pessoa comum, bem como sua rotina como mãe, esposa e dona de casa.
A partir dessa trama um tanto surrealista, Muraki começa a subverter suas expectativas. Mesmo há mais de duas semanas sem dormir, ela não se sente cansada, pelo contrário, a personagem começa a usar este tempo “livre” para fazer exercícios, ler mais, beber conhaque e comer chocolate. É como se acordada ela estivesse dormindo, e quando deixa de dormir começa a viver.
Algo que me chamou atenção é que tanto a história quanto o seu desfecho podem ser vistos por diversos pontos de vista. Você pode olhar como uma reflexão sobre a rotina e a monotonia da vida, ou até como a falta de perspectiva num futuro palpável; Algo como “estamos vivendo ou apenas existindo”? Outro viés interessante é que cada noite não dormida é um encontro da personagem com si mesma, onde ela começa a ter percepções mais claras sobre sua vida, seus desejos e frustrações. Inclua aqui alguns pensamento nada convencionais que eu prefiro que você descubra por si só.
A história cresce num constante clima de suspense, embora nada seja dito diretamente, o leitor percebe um clima sombrio, um tom de desesperança e melancolia. É uma leitura bastante sensorial. Somos arrastados com a personagem aos cantos mais obscuros da nossa mente com um texto simples e preciso.
De certa forma, Sono me lembrou um pouco “A Metamorfose” de Kafka, onde dentro de um universo aparentemente normal, algo surreal acontece e a personagem se vê enfrentando que ela não sabe o que é, você não sabe o que é, mas que de forma geral não importa, o fato é que a situação incomum afeta sua forma de pensar e enxergar o mundo ao seu redor.
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[…] lido apenas o conto Sono de Haruki Murakami anteriormente, a experiência de receber dicas de um autor quase desconhecido […]