Contos Ordinários de uma Sociedade Resignada – Ersin Karabulut
Não sou um leitor frequente de quadrinhos, mas confesso que “Contos Ordinários de uma Sociedade Resignada” me ganhou logo no título. A obra reúne quinze histórias curtinhas do autor turco Ersin Karabulut, e foi lançada no Brasil pela Comix Zone.
A perturbadora graphic novel parece uma mistura entre Black Mirror, o pessimismo de Schopenhauer e o lado mais sombrio de Edgar Allan Poe. É uma distopia futurista que retrata uma sociedade que renunciou aos seus anseios em prol de valores morais impostos pela ideia de família, poderes políticos e financeiros. É o que eu chamo de suco da degradação humana.
Contos Ordinários de uma Sociedade Resignada incita o leitor a refletir sobre a essência da natureza humana, questionar nossas motivações e observar nossos medos; além de mostrar os aspectos mais sórdidos do nosso comportamento: como crueldade e egoísmo. Ersin Karabulut faz com que nossos sentimentos e vontades inconfessáveis venham à tona, expondo o claro conflito moral do indivíduo frente às convenções sociais.
Temos aqui diversas premissas absurdas e recheadas de humor ácido e um certo humor melancólico. As histórias passam por um velho que se recusa a morrer; um homem que consegue moldar seu rosto para se parecer com qualquer pessoa; uma doença que se comunica escrevendo mensagens no corpo do infectado; uma mulher que recebe mensagens de um pepino e se apaixona por alguém que ela nunca viu, e por aí vai.
Essa visão desconfortável dos nossos pares sempre me chama muita atenção, principalmente quando tem este poder de confrontar o leitor, questionando qual o real sentido da nossa existência e mostrando como reagimos a situações e acontecimentos que nos colocam diante de dilemas morais. Afinal, quem somos de verdade? Por que lidamos com certas questões de uma forma em nossos pensamentos e de outra quando estamos sob o julgamento de outrem?
A graphic novel me causou impacto visual e psicológico, já que o autor tem um notável talento pra usar metáforas para passar sua mensagem, que não traz nenhuma resposta em absoluto, mas deixa perguntas importantes.