Não sou exatamente um grande conhecedor e apreciador de histórias em quadrinhos, vez ou outra eu encaro uma HQ, mas eu me identifico mais com a experiência de leitura sem um apoio visual ou ilustrações. Não é preconceito, só uma questão de amor pelas palavras. Ainda assim, pretendo ler alguns quadrinhos e conhecer melhor este universo. Confesso que fiquei bem curioso quando li a respeito Um Pedaço de Madeira e Aço, do quadrinista francês Christophe Chabouté, e descobri que ao longo das suas mais de 330 páginas não há nenhum diálogo. Nenhuma frase, nem um balãozinho sequer.
O personagem principal de Um Pedaço de Madeira e Aço é um banco de praça. Chabouté além de ter um traço bem legal, consegue transmitir emoções através de micro-histórias que num primeiro momento parecem banais, mas que ao longo das páginas se desenvolvem contando diversas situações que de certa forma dialogam com o leitor sobre o tempo. Aliás, o tempo aqui não deixa de ser um personagem poderoso. Acompanhamos um mendigo, um casal idoso, um músico, um vira-lata, um skatista e diversos outros personagens que aparecem e reaparecem ao longo do tempo de forma orgânica ao longo das páginas.
A narrativa se desenvolve revelando como cada uma dessas pequenas relações entre personagens e o banco evolui com o passar do tempo. Algumas histórias são belas, outras mais tristes, e aquele gosto agridoce fica na boca do leitor ao longo de toda a jornada. Até o banco tem o seu próprio arco narrativo e a trama te deixa curioso e ansioso pra saber qual será o desfecho. O fato é que quando você menos espera, vem aquela sensação de empatia por um objeto inanimado. Nessa hora eu peguei o meu amor pelas palavras e calei minha boca.
Um quadrinho muito sensível e comovente, que me fez querer me aventurar mais em obras como essa. Uma história contada sem uma única palavra, mas que tem muito a dizer.